Ainda no começo de dezembro de 2013 conheci, por intermédio de uma parente, o CRIAM – Centro de Reabilitação Amigos do Marinho. Ela me recomendou o lugar por conhecer a diretora e sua seriedade. Lá fui bem recebida, tivemos uma conversa sobre o funcionamento dos atendimentos, mas que naquele momento eles já haviam encerrado as atividades 2013 e retornariam no meio de janeiro com avaliações para ingressantes e reavaliações dos que lá já estavam, a fim de planejarem os atendimentos. Teríamos que aguardar 2014.
Tirar
férias e deixar essas coisas em stand by foi um tormento para mim. Como não
pensar em autismo? O Google virou uma ferramenta de auxílio e ao mesmo tempo um
pesadelo, pois a cada nova informação encontrada eu passava a olhar meu filho pela
lente do diagnóstico autista, e morria de medo. Qualquer movimento que meu
filho fazia eu já ficava observando e procurando explicações.
Hoje
quando olho para trás e me recordo dessa época percebo que o Léo havia ficado
mais quieto, menos interativo. Não por ser autista, mas porque é uma criança
com a sensibilidade de perceber o que acontece ao seu redor. Todos da família o
observavam, o analisavam. Esse lugar, de ser observado e analisado
constantemente, deve ser um lugar horrível de se estar, ainda mais se não
consegue comunicar o que sente.
Tadinho
do meu filhote. Uma pessoa da família me falou recentemente que estalou os
dedos várias vezes no ouvido do Léo, testando sua audição. Achei isso tão
violento. Se eu tivesse visto! Ah, se eu tivesse visto! Mas ninguém faz esse
tipo de coisa para seu filho na sua frente.
Com
o coração cheio de medo e receios partimos para uma viagem. Eu e o Ale nunca
havíamos passado nenhuma férias juntos, apenas rápidas viagens, pois ele sempre
estava trabalhando. Finalmente chegou nosso merecido descanso. Percebemos a tempo
o quanto as informações que pescamos na internet estavam nos distanciando do
nosso filho, transformando-o numa criança em eterna observação. Combinamos de
parar de investigar por hora, que curtiríamos o Léo do jeitinho que ele era,
sem mas nem porquês.
Em
nossas férias reencontramos amigos sensacionais, que nos tranquilizaram, amigos
que respeitam o ser humano independente de qualquer padrão, como disse Chico
Science, “Somos o que somos inclassificáveis”.
Ficamos
as festas de fim de ano com amigos em São Sebastião e depois fomos nos
encontrar com outro grande amigo em Florianópolis. Na praia o Léo se divertiu
bastante. Adora água, brincou muito. Gostava de perseguir a própria sombra
quando estava na areia. Quase demos a volta na ilha andando e perseguindo sua
sombra. Foram momentos mágicos, longe de casa, longe dos olhares dos outros,
longe das cobranças e preocupações dos outros. Foram dias em que pude viver minha
família do jeito que nós três realmente somos.
Terminado o
descanso, era hora de retornar pra casa. Chegamos aqui em São Paulo de
madrugada e pela manhã já tínhamos um encontro no CRIAM para avaliação. Infelizmente
alguém se esqueceu de avisar as terapeutas da nossa ida naquele dia e fomos
reagendado para outro dia. Isso foi
suficiente para retomar todo aquele sentimento de desassossego, de ficar
ligando, agendando, implorando por realizações de exames e agendamentos.
Surtei! Não
queria mais ficar naquela correria do ano anterior, no desespero de conseguir
realizar todos os exames. Não sabia mais o que fazer, quem procurar e era tudo
muito caro. No meio do desespero o Ale
tentava me acalmar. Passamos por momentos difíceis, precisei ser medicada para
aguentar a barra, só minha terapeuta não estava dando conta de mim. Eu
precisava cuidar do Léo e hoje sei que teve um time cuidando de mim (o Ale,
minha terapeuta e o médico psiquiatra que vem me acompanhando, que é um doce de
pessoa). A esse time dou minha eterna gratidão.
O Ale estava
num tempo diferente do meu. Isso não quer dizer que ele não sofria, mas no
fundo nossas doses de esperança estavam em níveis diferentes. Ele tinha mais
que eu.
O que chamo
de esperança, alguns de fora chamam “Vocês não queriam ver ou aceitar”. Mas nós
víamos, porém aceitar era tirar de nós a esperança de que aquilo tudo não fosse
só um delírio da sociedade moderna perseguindo modelos e padronizações para
aqueles que saem um pouco das curvas e das médias.
Hoje escrevo
aqui, já mais firme e determinada da minha nova realidade e de minha missão, e
por isso deixo o alerta: por mais que você suspeite ou que ache que há algo
diferente a respeito do filho ou filha de alguém, por favor, tenha cuidado ao
falar sobre isso com eles. Há modos e modos de abordar o tema. Se for falar
algo, tome cuidado, meça as palavras e cuide para que nunca tire a esperança de
um pai ou de uma mãe.
Pais veem
muitas coisas, fazem muitas coisas que quem está de fora não acompanha. Aceitar
que seu filho pode ser autista é um processo muito, muito lento, muitas vezes dolorido e que se constrói aos poucos. Isso
não quer dizer que pais e mães não estejam agindo. Apoie, colabore e não tire suas
esperanças. A criança é o que é. E, independente do que ela for, diga tudo vai
ficar bem. Você não estará mentindo, e os ajudará a passar por essa fase tão
difícil.
Esperanças se acumulam e se transformam, tais
quais as cinzas de uma Fênix.
Vai ficar tudo bem!!
ResponderExcluirShow de bola seu blog! Com certeza ajudará muita gente!
Obrigada.
ResponderExcluirRealmente 4 anos depois posso dizer que tudo está bem. Bem melhor!