Quero e preciso dividir uma das alegrias de 2019 e da
Educação Inclusiva.
Depois de todas as desilusões do ano passado, com a EMEF que
procuramos para matricular o Léo, onde
há um projeto Político Pedagógico que vislumbra a inclusão, mas que, na nossa experiência
a teoria esteve bem longe da prática pedagógica em relação a educação
inclusiva, como expus no texto Inclusão X Se vira aí!. Demos uma segunda chance a
educação inclusiva em outra EMEF e este ano tem sido de muitas realizações para
o Léo.
Claro que nada veio sem lutas. No entanto, nesta escola encontramos um time de
professoras, coordenação e profissionais que jogam junto. Mesmo com todas as
dificuldades da educação pública seguimos no objetivo comum de desenvolver as
potencialidades do Leonardo, desafiando-o e nos desafiando. Ele aprende e nos
ensina. Ensinamos e aprendemos.
Como sabem o Léo não fala, então fica difícil saber como foi
seu dia na escola, não sabemos o que ele fez, se esteve feliz, se algo o
aborreceu, enfim, esse é um problema de muitos pais que tem seus filhos não
verbais ou sem uma comunicação que possa dar conta do diálogo interativo.
Para amenizar essa
dificuldade, tenho mantido um contato quase que diário via um Caderno de Comunicação entre professora
e nossa família, que vai muito além dos recados internos e agendas da escola.
Desta forma consigo,
saber algumas coisas sobre o Léo. Mas são muitos os professores, muitas as
relações do cotidiano escolar e é impossível a gente saber de tudo. Mesmo para
as crianças típicas, muitas vezes os
pais são pegos de surpresa quando as professoras contam novidades sobre seus
filhos apenas no dia da reunião de pais.
Num dia destes, ao chegar em casa, fui ver o Caderno de
Comunicação e tive uma destas surpresas. Tinha um recado da professora e uma
autorização para que o Léo pudesse sair com a escola para um evento na DRE
Butantã, representando a escola, pois seu trabalho havia sido selecionado.
Eu não vi o trabalho que realizou, por pura curiosidade
liguei na escola para saber mais detalhes. Foi uma atividade realizada nas
aulas de Informática e Leitura. O Léo
realizou a mesma proposta dos colegas, mas com o apoio e incentivo da
estagiária da sala e claro junto aos professores.
Na maior parte do ano o Léo esteve sem acompanhante
pedagógico, apenas a professora na sala de aula e todas as crianças. A
professora sempre fez o que estava ao seu alcance para o Leonardo, mas sem
sombras de dúvidas, após a chegada da estagiária para o auxílio da sala e do
acompanhamento pedagógico do Léo tudo tem melhorado.
Isso nos mostra o quanto esse meio assistivo é necessário
para o desenvolvimento dele, pois se queremos falar em equidade, em
oportunidades na educação inclusiva e desenho universal não
podemos deixar de dar e criar os suportes ADEQUADOS para esses estudantes.
O Léo está na escola pública desde a EMEI, mas nunca
autorizei a saída dele sozinho com a escola, nem aquelas voltas nos quarteirões
ou praças próximas, pois ele tinha um costume de sair correndo em direção de
algo do interesse dele, mesmo que isso estivesse do outro lado de uma avenida
movimentada. Nas excursões que houveram, eu fui junto com a escola e sempre as
professoras agradeceram no final, pois o
Léo se desgarrava do grupo escolar e para leva-lo de volta desencadeava crises
disruptivas, que eu já sabia antecipar para não acontecer. Mas eventualmente
uma ou outra aconteceu.
Acontece que desta vez a autorização não caberia a minha
ida, tinha agendado trabalho com meus alunos no dia seguinte onde leciono.
Então, respirei fundo e autorizei a ida dele. Na conversa com a coordenadora
por telefone foi me dito que a estagiária iria junto, o que tranquilizou, pois
ela é muito competente e já estabeleceu um vínculo muito bom com o Leonardo.
Mas como falar para o Léo que iria acontecer? Como amenizar
essa quebra de Rotina escolar para que entenda e aproveite a oportunidade e a
experiência deste evento acadêmico fora do ambiente escolar?
Mais uma questão importante
surgiu. O lugar para onde iria era o auditório do CEU, que fica bem
próximo da minha casa. E que nós eventualmente levamos o Léo de fim de semana
para caminhar e brincar neste CEU. Como é perto, vamos a pé. E tenho certeza
que o Léo sabe sair de lá e vir para casa. Mas existe uma avenida muito
movimentada de carros e ônibus neste caminho. Então, dei as recomendações para
a coordenadora e estagiária que não desgrudassem do Léo, não deixassem ficar correndo pelo espaço, pois se eu o
conheço bem, se o evento não gerasse interesse nele, daria uma disfarçada e
cairia fora, indo pra casa, ou ainda tentaria ir para pista de skate ou
piscina.
Recado dado. Mas a missão não estava cumprida. As 22 horas da
mesma noite que recebi o recado, estava
na frente do computador criando pistas visuais para a rotina do dia seguinte.
Afinal, todos os dias quando chega a escola ele usa um apoio visual das aulas
que terá no dia, o que tem que fazer, como pegar a mochila, abrir e pegar o
caderno, estojo etc...
Então resolvi fazer a Rotina tentando criar uma previsibilidade
do que aconteceria e principalmente que ele deveria ficar no auditório e não
era para ir para a pista de skate, nem para a piscina do CEU. Enfim, teria que entender que
estava lá para uma atividade específica com o grupo da escola e não ficar andando
pelo CEU nos seus lugares preferidos.
Que ficou assim... (vídeo)
Para as mães e pais de familiares de crianças com TEA sempre
sugiro o investimento na compra da máquina emplastificadora e um rolo de velcro
que pode ser comprado em bazares de bairro, às vezes nestas lojas grandes de
1,99 (que mais nada custa 1,99) papelarias ou ainda naquela passada semestral
da Rua 25 de março.
Mesmo para crianças verbais com TEA, as pistas visuais para
criar previsibilidade nas mudanças de rotina, geram mais segurança para elas,
diminuindo o impacto das alterações e fazendo com que possam desfrutar melhor
do evento novo.
Quero lembrar que tudo o que fiz aqui tenho orientações de uma equipe terapêutica, embora muitas coisas eu faça sozinha, tenho sempre uma supervisão profissional em ABA que me auxila.
Quero lembrar que tudo o que fiz aqui tenho orientações de uma equipe terapêutica, embora muitas coisas eu faça sozinha, tenho sempre uma supervisão profissional em ABA que me auxila.
Após o evento foi
relatado por professores que o acompanharam e pela estagiária, que o Léo
entendeu muito bem a Rotina com as pistas visuais, quis sair poucas vezes do
auditório e uma delas foi para ir ao banheiro que já sabia onde era, pois já usou das outras
vezes que fomos lá.
Permaneceu sentado no auditório, mas também caminhou, subiu no palco, pegou o
microfone e me parece que ao ser
solicitado para dar “oi” a plateia respondeu “oi”. Algumas pessoas da DRE
Butantã que estavam presente no
evento o reconheceu, afinal são nossas
parceiras de lutas pela a inclusão escolar desde a EMEI. Assistiu as animações, se empolgou com
algumas. Enfim, foi o Léo sendo o Léo.
Houve muito respeito por ele estar lá.
Alguns dias depois, uma professora de outra EMEF, que é
minha amiga, relatou que viu o Léo no
anime DRE e elogiou a escola dele, pois foi a única que ao selecionar os
participantes para esse evento, levou um estudante público alvo da educação
inclusiva.
Isso é um elogio para
escola, mas um alerta para as outras. Aproximadamente 10 EMEFs estavam lá no
auditório com grupos de estudantes. Será que teremos que criar cotas? Acho que
não é preciso chegar a esse ponto se trabalharmos com as crianças público alvo da educação
inclusiva os projetos que são realizados pelos professores respeitando o
desenho universal , criando e adaptando as situações e ambientes para isso,
isso é contrapor as barreiras atitudinais existentes nas escolas.
De qualquer forma, aqui escreve uma mãe muito feliz e
surpresa por todos esses acontecimentos. Desejo que mais coisas assim aconteçam
para meu menino. E claro para outras crianças também. Que as portas se abram
cada vez mais para essa inclusão.
Segue agora o vídeo que tem um dos personagens que o Léo criou nas aulas. Será que vocês adivinham qual personagem?
Segue agora o vídeo que tem um dos personagens que o Léo criou nas aulas. Será que vocês adivinham qual personagem?
E parabéns meu menino por ter feito um lindo trabalho!
Parabéns aos
professores de Leitura e Informática e a
Estagiária da turma do 2º. E pelo trabalho inclusivo e pela coragem de levar um
aluno público alvo da educação inclusiva que não para quieto num evento deste
porte!
Parabéns e nosso muito obrigada!