A vida não tem passado em branco. Antes da pandemia, tudo era uma correria. Quem me conhece ou me acompanha sabe que a vida é de luta. O Autismo, mais que uma condição do meu filho, virou uma militância. Afinal, quando o autismo chega em nossa vida não é apenas ela que muda, passamos a ver a sociedade com outros olhos, assim como nos enxergamos de maneira diferente também e percebemos o quanto precisamos buscar por transformações individuais e, acima de tudo, sociais. Passamos a sentir a exclusão dos direitos ao acesso à cidadania de uma forma muito mais intensa. Então a indignação virou um incômodo que me fez sair do lugar.
Comecei com o Blog, fui estudar, fiz cursos e até iniciei
uma pós graduação. Trabalhei na linha de
frente para trazer o projeto da Sessão Azul, uma sessão adaptada de cinema para
pessoas com TEA e distúrbios sensoriais que acontecia no Rio de Janeiro, para
São Paulo. Foram tempos de trabalho voluntário e muita dedicação.
Também passei junto com meu companheiro a fazer algumas
palestras para professores e pais, atividades em escolas com crianças para
falar sobre inclusão escolar, e o passo mais recente foi participar do Conselho
de Inclusão Escolar do Município de São Paulo, um conselho democrático
idealizado pelo vereador Celso Giannazi.
Aprendi muito com as pessoas deste Conselho. Lá participam
PCDs, entre eles autistas, mães de pessoas com deficiência, professoras e
diretoras da rede municipal de ensino de escolas da cidade de São Paulo,
profissionais da saúde e tantas outras pessoas com experiência, o que fez do
Conselho um lugar muito especial para mim tanto
antes quanto durante o 1º ano da Pandemia, pois em 2020 os problemas
educacionais foram escancarados em relação ao público alvo da educação
inclusiva na cidade de São Paulo, e a luta teve que tomar diversas frentes,
inclusive para manter o direito à educação inclusiva frente aos projetos de lei
que surgiram sobre Educação Especial. Já temos tantas lutas e tivemos que
voltar algumas casas que já havíamos avançado neste “jogo da vida” por direitos
e cidadania, para reafirmar a Educação Inclusiva.
A vida realmente não é uma página em branco, tampouco são as selfies que colocamos nas
redes sociais.
Às vezes, conversando com alguns amigos que são pais de
crianças neurotípicas, destacava que eles criam educando o filho para o mundo.
Nós temos que criar nossos filhos muitas
vezes educando o mundo para recebê-los. Isso faz uma grande diferença na
maternidade ou paternidade.
Claro que não são todas as mães de crianças com alguma
deficiência que se transformam em ativistas ou militantes. E isso não faz a
jornada delas menos complicada. Não é toda pessoa que tem o perfil para ser
ativista ou militante, mas cada uma de nós sabe da luta que é o dia a dia e,
principalmente, sabemos o tamanho do AMOR que temos por nossos filhos. E isso
não se mede, se sente.
E por falar em sentir, estou sentindo muita necessidade de
voltar a escrever. Relatar meus aprendizados que foram tão intensos nestes
últimos anos. A maternidade que esse ano
vai completar uma década. E aquele bebê com TEA já é um menino.