A “reunião” com a coordenadora da escolinha foi uma tragédia sem
tradução. Ela falou sem meias palavras que notaram que o Léo era uma criança
diferente, que se desenvolvia de maneira diferente. Na hora saquei que ela iria
falar sobre a questão do atraso de linguagem. Então perguntei: "Diferente
como?". E ela me respondeu que ele não sentava em roda com as outras
crianças, que muitas vezes o chamavam e ele os ignorava, que não trazia coisas
quando pediam, que brincava isolado com alguns brinquedos. E, de repente, não
mais que de repente, ela soltou a seguinte frase, que ressoa nos meus ouvidos
até os dias de hoje: "Acho bom você procurar um pediatra e relatar isso
para ele, seu filho pode ter algum problema de audição ou ser AUTISTA".
PÁ! Tapa na cara!
A reunião terminou pacífica, mas não me recordo como terminou. Saí
de lá tão transtornada que, ao abrir a porta do carro, não tive reflexo para
sair de frente e dei com a porta com toda força no meu nariz. A dor no nariz
era tão grande que demorou para eu reorganizar meus sentimentos.
Assim que voltei a mim liguei para o Alexandre. Ele ficou com
muita raiva da tal coordenadora por ela ter abordado tal assunto comigo sem
nenhum zelo ou mesmo tato. Tentou me acalmar o suficiente para que eu pudesse
ao menos dar sequencia a meu dia.
Cheguei ao trabalho em cima da hora. Entrei na sala de aula ainda
transtornada. Era uma turma do 1º ano de Telecomunicações. Eu tinha passado para
eles na aula anterior um texto com duas questões de simples interpretação
e opinião. Apenas 3 alunos haviam feito. Aquilo mexeu comigo de uma forma,
pois eram jovens inteligentes, capazes, estudando um curso técnico que oferece
conhecimento, profissão, e justamente aquela turma demostrava não só na minha
matéria um desinteresse, um descomprometimento total. Naquele momento não
consegui evitar de pensar que
talvez meu filho nunca tivesse a chance que eles tinham nas mãos, e que
eles, por mera "bobeira adolescente",
estavam jogando fora aquela oportunidade de aprender, de SER e de transformar.
Aquilo me doeu na alma. Soltei um discurso para eles sobre o que estavam
jogando fora, pelo seu descaso com as próprias oportunidades. Dei o maior
sermão, e no final caí num choro desconsolado. Em nenhum momento citei meu
filho e nem a hipótese dele vir a ser autista. Os alunos ficaram quietos com cara
de culpados, olhos arregalados, pois imagino que nenhuma professora antes havia
chorado porque eles não haviam feito a lição de casa. Hoje dou risada
quando conto ou lembro disso. Mas no fundo ainda posso sentir aquele sentimento,
mesmo que já tenha aprendido a cultivar a esperança.
No dia 4 de setembro estávamos no pediatra do convênio, iniciando
a jornada de investigação do Léo. Mencionamos o “diagnóstico” irresponsável da
coordenadora, e ele imediatamente se queixou da série de reportagens sobre
autismo do Dr. Dráusio Varela no programa Fantástico, e que por
conta disso toda criança que demorasse um pouco para começar a falar as
primeiras palavras já era rotulada como autista. Nos explicou que esse
diagnóstico não era simples. Ele se colocou à disposição para acompanhar o Léo
e nos disse que, com o Léo com apenas 2 anos e 5 dias, o que investigaríamos seria
o atraso de linguagem, que poderia ser causado por diversos fatores distintos,
e não somente o autismo. Tendo isso em mente, nos encaminhou para um
neuropediatra.
Lutar pelos filhos!! Essa é a lição que aprendemos todos os dias!!
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