Quando fiquei grávida do Leonardo eu tinha o convênio médico
da AMIL, mas ainda não havia dado o tempo para a carência de cobrir o parto.
Quase caímos nas armadilhas capitalistas dos partos particulares, caríssimos e
obviamente cesarianos, uma vez que é nítida a visão lucrativa dos médicos em
realizarem cesáreas rápidas e lucrar, ao invés de acompanhar um parto normal,
que pode durar horas.
Enfim, depois de
consultar os preços exorbitantes das maternidades, seus médicos anestesistas e vacinas
para o bebê, resolvi procurar o Sistema Único de Saúde. Como sou funcionária
pública (professora de Barueri), fiquei sabendo que tinha direito de fazer o
parto no Hospital Municipal de Barueri. Já tinha ouvido algumas referências
positivas desta Maternidade fui conhecê-la. Tudo muito simples, mas o que me
chamou atenção foi que encontrei poucos leitos e que, se eu chegasse lá e
estivessem todos lotados, me transfeririam para outra maternidade pública. Essa
possibilidade me tirou o sono, mas era o que tinha, então fui fazer o pré-natal
com médicos da Unidade de Atendimento de Barueri, onde fui muito bem atendida. Pediram-me
uma bateria de exames, pois eu estava muito inchada. Foi lá que perceberam que
minha pressão estava começando a subir.
Algum tempo depois fui até o Hospital Universitário da USP (gravida
de aproximadamente 6 meses), pois moro na região próxima a Cidade
Universitária, e queria saber se poderia fazer o parto lá. Fui até a assistente
social do hospital, que me encaminhou para a UBS (Unidade Básica de Saúde),
onde eu deveria fazer o pré-natal para poder realizar o parto no HU. Fiquei
tranquila, pois bem mais perto de casa que Barueri. E dá uma certa
tranquilidade, mesmo que apenas psicológica, ser atendida por profissionais da
USP.
Este foi meu primeiro encontro com o SUS. Como já contei no
texto “O Auge”, meu parto foi no Hospital Universitário, onde fomos muito bem
atendidos. Alguns meses depois o SUS mandou um relatório com os gastos que
tiveram comigo e com o Léo, como informativo. Se eu já estava me sentindo
extorquida pelos preços das maternidades particulares, pude comprovar isso como
esse informe de gastos do SUS. (Veja abaixo)
Assim que o Léo nasceu, fomos na pediatra da UBS e gostei
muito do trabalho dela. Levava o Léo no médico do convênio apenas em alguns
momentos específicos que necessitavam de alguma celeridade, pois a agenda do
SUS são datas agendadas previamente assim que saímos de uma consulta,
emergências devemos ir ao Posto de Saúde. Mas a mesma pediatra da UBS acompanha
o desenvolvimento do Léo até hoje.
Como disse no texto “Caminho para as terapias”, foi essa
pediatra que nos encaminhou ao geneticista do SUS, um médico renomado, destes
que o “Jornal Nacional” gosta de entrevistar quando há alguma matéria a
respeito de Síndromes Genéticas ou quando precisa de uma opinião profissional.
A mesma pediatra também nos encaminhou para o Ambulatório de Especialidades
para fazer Terapia Ocupacional.
Embora este Ambulatório de Especialidades tivesse a
aparência precária típica de hospitais públicos (infelizmente), contava com uma
equipe muito boa. Como já disse em outros textos esta terapia que realizou o
atendimento fonoaudiológico e TO em grupo, que ajudaram muito no comportamento
do Leonardo, tanto que tenho um carinho
muito respeitoso e especial por estas profissionais, que mesmo diante de tantas
limitações materiais conseguem realizar um excelente trabalho.
Só que desde o inicio do tratamento nos foi avisado que o
Ambulatório sofreria uma reforma em breve, mas as terapeutas não sabiam
informar quando.
Era ano de Copa do Mundo e, como é de praxe, as pessoas
deixaram para planejar calendários às vésperas do evento. A reforma começou a
ser realizada em setembro de 2014. E as salas das terapias passaram a ser
dividas com outros médicos, para não interromper atendimentos agendados. Com
isso os atendimentos das terapias foram reagendados e alguns entraram em
espera, como o grupo de estimulação infantil que o Léo e outras crianças com
deficiências diversas participavam, pois o local onde era realizado o
atendimento ficou inapropriado para atender um grupo de crianças.
No primeiro mês uma das terapeutas nos disse que entraria de
licença, então resolvi esperar seu retorno. Quando ela voltou nos disse que
tinham tentado achar outros locais para atender as crianças, mas alguns foram
negados, e os outros eram inadequados para aquele grupo. Diante desta informação
liguei para Ouvidoria do SUS, onde ouvi algumas desculpas no mesmo teor que as
terapeutas já haviam me explicado. Mas o que eu queria saber de fato era: quando
voltaríamos a ser atendidos e onde?
Liguei também na Coordenadoria Regional da Saúde. Foi neste
momento que a palhaçada começou. Uma moça com uma voz “sem vontade de viver” me
atendeu, dizendo que anotou minha queixa, que ela seria encaminhada para a
Ouvidoria, e que demoraria 30 dias úteis para me responderem. Eu já havia entrado
em contato anteriormente com a Ouvidoria, e eles me informaram que consultariam
a Coordenadoria da Saúde, que era a responsável pelo calendário de obras.
Entenderam o rolo? Nem eles! Ninguém sabia de nada, muito menos o que fariam
com as crianças em tratamento.
No dia seguinte em que reclamei na Coordenadoria da saúde a
Fonoaudióloga me telefonou. Queria saber dos motivos da minha queixa sobre o
trabalho dela, pois até então foi tudo tão bem. Eu me espantei. Eu não havia
reclamado em momento algum do trabalho dela ou da TO, muito pelo contrário! Eu
queria que o atendimento fosse logo retomado, pois estava surtindo efeito no
Léo e nas outras crianças. Lembre-me da atendente da Coordenadoria, aquela sem
vontade de viver, quando disse que não podia fazer nada, no que retruquei: “E
agora eu faço o quê?”, me respondeu: “Faça o que quiser!”. Nesta hora a vontade
que eu tive foi de entrar no fio do telefone e lhe dar um safanão. Essa mesma
pessoa possivelmente destorceu minha queixa, tirou a responsabilidade da
administração da saúde pública, e colocou no elo mais frágil da corrente: nas
terapeutas que estão na linha de frente dos atendimentos públicos.
Como eu disse, sou servidora pública, e sei muito bem como
essas coisas funcionam. Conversei com a Fono expliquei que estava tudo bem em
relação aos atendimentos realizados, e que iria ver o que tinha acontecido. Resolvi
escrever minha queixa e levar até Ouvidoria. Desta maneira, escrita e
protocolada, eles saberiam do que realmente eu estava reclamando e de quem. (Ver
abaixo)
Fui até a Ouvidoria e protocolei a reclamação formal em 13
de novembro de 2014. Até hoje NINGUÉM da Ouvidoria me ligou para responder. Neste
meio tempo recebi outra ligação da Fono, dizendo que ela tinha recebido uma
“chamada”, e a culparam de estar “incitando” as mães a reclamarem. Disseram que
duas mães reclamaram do trabalho dela, e que ela não poderia receber mais
nenhuma reclamação. Isso aconteceu no período de Natal de 2014, perto do
recesso.
Fiquei sem saber o que fazer. Prometi enviar uma cópia da minha
carta de reclamação para ela, assim ela poderia perceber que em momento algum
eu critiquei o trabalho dela.
Mas eu sei muito bem no que essas coisas desencadeiam, e eu
não queria prejudicar a carreira dela, pois, mesmo ela sendo concursada, há
varias maneiras de prejudicá-la. E, sinceramente, ela não merece. Não sei se
fiz mal ou bem, mas não fui mais atrás desta demanda. E até agora não recebi
nenhum sinal da Ouvidoria.
Em novembro o Léo tinha acabado de receber o diagnóstico de
autismo, e minhas demandas agora eram outras, pois o próximo passo seria traçar
um novo caminho de terapias específicas para ele. Então acabei deixando isso
para trás. Estou numa outra luta no momento.
Mas mesmo assim sempre ligo para a Fono e a deixo a par de
tudo que está acontecendo com o Léo. O Ambulatório ainda está em reforma. Continuam
atendendo as outras pessoas, menos esse grupo específico de crianças.
É um absurdo como uma Administração da Saúde trata esse tipo
de situação. Tudo está errado! E quem paga no final? As terapeutas, as mães, e
principalmente as CRIANÇAS que tanto necessitam deste atendimento! É assim que
a sociedade enxerga as pessoas deficientes, na invisibilidade. “São deficientes
mesmo! Fazer o quê?”
Essa história me tirou a saúde. Fiquei alguns dias tão
nervosa que minha coluna travou, me deu enxaqueca, chorei muito. Fiquei muito
tensa em passar por isso, de não poder fazer nada e, principalmente, de saber
que outras tantas pessoas passam por isso e não têm nenhuma alternativa.
Não é tão difícil resolver essa situação. Basta
sensibilidade e vontade. Mas, no fundo, a verdade é que as pessoas da tal “administração
da saúde” oram e rezam apenas para si próprios, enquanto se consideram acima do
Bem e do Mal.
O SUS é assim, feito por alguns humanos falhos, e outros,
tão cheios de garra e lutas, mas que são soterrados em burocratas e maus
administradores. Há pontos positivos a destacar, mas ainda está longe do ideal,
por vários motivos, políticos e apolíticos.
E a Ouvidoria? Para quem que serve?
Para o sistema. E apenas para o sistema!
Os preços pesquisados para parto em maternidades particulares variaram de 5 a 18 mil reais.
Oi Amanda! Estou adorando seus textos!! É muito bom saber que tem alguém que compartilha das mesmas dificuldades e sentimentos. A cada texto sinto-me confortada e compreendida!!! Estou apenas no começo da jornada, mas já me sinto parte do grupo de mães corajosas e batalhadoras... que buscam o melhor para os filhos especiais!!! Sei que ainda tenho muito a aprender... obrigada por me ensinar!!! um grande abraço!!
ResponderExcluirOlá Paula! O caminho é de aprendizado, cabe a nós torná-lo mais fácil nos unindo.
ResponderExcluirUm abraço azul!