sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Uma leitura do livro Autismo e Escapismo




Ler o livro “Autismo e escapismo” (Desiderio Pires Silveira, 2013 editora  Scortecci)  foi uma experiência muito gratificante para mim. É o segundo livro que leio no qual o autor é pai de um autista que conta suas histórias. O primeiro livro que li, “Autismo no Brasil, grande desafio!” (Ulisses Costa, 2013 editora WAK),  tem um caráter mais político, sobre a lutas dos pais para conquistar os direitos de nossos filhos. Também conta histórias sobre pais e filhos, famílias e diagnósticos, mas com o foco mais informativo.

Já “Autismo e escapismo” narra essas histórias em formato de crônicas, o que nos permite viajar para o universo destes personagens, tão reais quanto nós. A gente ri, se emociona, se surpreende, pois são histórias muito parecidas com as nossas, que temos uma criança autista.

Acho muito importante essa identificação, reconhecermo-nos como membros da sociedade, percebermos que somos muitos, e que não estamos sozinhos.

Este livro conta histórias vividas há 30 anos, e isso permitiu que eu me reconhecesse não só nas questões de ter um filho autista, mas também de reviver alguns momentos históricos do Brasil significantes de minha vida. Eu estava lá, eles estavam lá. Todos vivemos por estes dias.

Ter um filho autista hoje é difícil, pois encontramos mil e uma dificuldades sobre como tratar as terapias adequadas, médicos, medicamentos, e a angústia pelo espera da Ciência em nos dar respostas sobre as mais diversas situações que surgem nas pessoas com TEA. Mas, sem dúvida, há 30 anos essas questões carregavam uma sombra muito maior. Mas Desiderio e sua família se saíram muito bem, pois não há cura, não há remédios. Há AMOR e dedicação.

Quando comprei o livro, pensei que a palavra “escapismo” vinha daquela relação do olhar dos autistas, que às vezes parecem distantes, como se o pensamento deles “escapasse” da realidade que os cerca. Mas me enganei. São escapismos pois crianças autistas são especialistas em escapar de nós. Essa foi outra identificação que tive com as crônicas. Comecei a reparar mais nas constantes escapadas do Léo.
Lembrei-me da primeira fuga. Estávamos numa reunião de amigos, que faziam um “chá bar”, pois iriam se casar. Levei uma comidinha para o Léo e, quando acabou de comer, fui lavar a colher. 

Apenas virei as costas e, quando retornei, ele não estava mais lá. Passei rapidamente os olhos pelo salão de festas e não o encontrei. Fui no salão ao lado, mas estava vazio. Fui para fora do salão, onde estavam algumas amigas conversando, e vi que o Léo não estava com elas. Passei entre elas e, numa fala desesperada, acho que gritei ou sussurrei (não me lembro ao certo ): “O Léo sumiu!”.

Uma das convidadas ouviu e imediatamente replicou para as outras, e começamos a procurar. O Ale estava dentro do salão conversando com os amigos, e o chamei de longe mesmo, avisando que o Léo havia sumido. 


Começamos as buscas. Não tenho ideia quanto tempo foi. Uma de minhas amigas disse que foi rápido, mas para mim foi bem demorado. O Condomínio era enorme, principalmente para uma criança de 2 anos e meio. Minhas pernas estavam moles.

Foi quando uma das convidadas da festa, que também estava na busca, ouviu um choro e viu que ele vinha de dentro de um elevador. Ela apertou o botão, a porta abriu, e o Léo estava lá, assustado, mas são e salvo. Havia entrado no elevador e a porta fechou automaticamente deixando ele preso lá dentro.
Isso não o deixou traumatizado nem de elevador, nem de outros escapes. Portanto, ler esse livro foi importante para mim, pois essa é uma das caraterísticas que temos que ter muito cuidado, principalmente nesta fase que ele ainda não sabe falar.

Sobre o caminho de buscas por terapias descrito no livro, também me identifiquei. Mas, como disse, naquela época as informações eram mais escassas. A grande lição é que, mesmo diante destas dificuldades, estes pais foram buscar – e buscam até hoje – terapias e tratamentos que ajudaram a criança, o jovem e hoje adulto DH. Em momentos diferentes dos estágios da vida temos que buscar e, principalmente, compreender o que é melhor para o indivíduo e sua família, sempre levando em consideração todas as subjetividades e limitações. Tudo isso se manifesta ao longo do livro.

Desidério, no decorrer de suas crônicas, faz vários questionamentos a respeito do autismo e das situações narradas. Conforme lia, respondia ou tentava responder mentalmente cada questão proposta. Foi um ótimo exercício, tanto para se colocar no lugar deste pai e da época em que narra suas histórias, quanto para perceber situações minhas vividas com o Léo e o autismo.

Recomendo a leitura deste livro a todos os pais e familiares e amigos que convivem com nossos grandes Escapistas. 


3 comentários:

  1. Muito Obrigado Amanda! O livro tem essa ideia mesmo de compartilhar as "aventuras" e "agruras" de uma família com um filho autista. Como escrevi no Prólogo "Se conseguirmos que este livro seja útil para nossos leitores, de alguma maneira, estaremos satisfeitos com nossa obra.". Desejo que você possa realizar o sonho de fazer o Caminho de Santiago de Compostela. É uma bela experiência! Grande abraço.

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  2. Em tempo: Desejo que você possa realizar o sonho de fazer o Caminho de Santiago de Compostela com o Léo, naturalmente!

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