O tempo vai passando, e tenho muitas coisas boas acontecendo
este ano com meu filho.
Já tenho textos prontos para narrar o que anda acontecendo.
Narrar como coisas pequenas se transformam em grandes, e como faz diferença não
desistir da inclusão escolar.
Mas toda vez que vou escrever o que aconteceu mais recentemente,
fica uma peça faltando deste quebra cabeça que se transformou nossa vida e o
mundo da inclusão escolar.
Não é a primeira vez que sento para escrever o que aconteceu
no ano passado. Mas a mágoa havia tomado conta de meus sentimentos e os textos
não saíam.
Embora não tenha como aliviar toda a dor que passamos, posso
apenas dizer que superamos, mas não esqueceremos.
Desde o diagnóstico do Léo sempre fiquei preocupada com o
ensino fundamental. Anotei os nomes de algumas escolas que pesquisei no Google
e encontrei escolas parceiras da Inclusão.
Na época, anotei num post-it o nome de uma escola pública
que por sorte é no bairro onde moramos. Deixei anotado no meu mural, para lembrar
quando chegasse o momento da passagem para o ensino fundamental.
Quem está na rede pública municipal de São Paulo sabe que
não são os pais que escolhem a escola para onde seus filhos irão durante a
transição do ensino infantil para o fundamental. Há um sistema que faz essa
escolha. E esse sistema não colocou meu
filho na escola parceira da inclusão que eu havia pesquisado.
Queríamos aquela escola, pois passamos a frequentá-la, já
que seu Projeto Político Pedagógico (PPP) permite a participação da comunidade
em seu entorno. Tive então que pedir a transferência dele para lá.
Conseguimos. Não foi fácil, mas foi um alivio para nós pais,
pois lá já tínhamos amigos com filhos, especiais e típicos, que já estudavam na
escola. Sabíamos dos desafios de colocar nosso filho numa escola com um
processo pedagógico alternativo aos modelos tradicionais, mas quando lemos o
PPP da escola nos identificamos.
A escola em questão mantem literalmente os portões abertos,
e comecei a participar como voluntária no projeto de horta. Cheguei a plantar
nesta escola um pé de Cambuci que ganhei de um morador de da Vila de
Paranapiacaba. Plantei junto com outros pais de crianças e ainda brinquei: “Daqui
há nove anos será uma árvore grande, crescerá na escola junto de nossas
crianças.”
Nesta época já havia muitos
desafios, mas como toda escola pública tem seus problemas tentei ao meu modo
relativizar o que ocorria. Passei a frequentar as Assembleias de Pais e relatar
algumas situações específicas que ocorreram com meu filho por conta da sua
condição.
Como sabem o Leonardo faz uso da PECS (sistema de comunicação
por troca de imagens), e usa uma pochete na cintura com várias imagens que pode
formar sentenças para fazer pedidos. Mas, como toda criança de seis anos que
passa pela transição de troca de escola, em um ambiente novo, cuidadores e
professores novos, tudo precisa de tempo e adaptações. E desde sempre a PECS do
meu filho foi negligenciada pela escola. E não foi por falta de conversas com
as professoras, estagiária, coordenação, assistentes de direção, alunos e outros
funcionários.
Conversamos muito, levamos terapeutas que trabalhavam com o
Léo desde os três anos implementando esse sistema de comunicação, mas sempre
que ele chegava à escola a Auxiliar de Vida Escolar (AVE) retirava a pochete
com a PECS da cintura dele a guardava com ela, por mais que explicássemos que
deveria ficar com o menino. Sua desculpa era que ele iria perder. Inclusive
isso foi motivo de discussão com a professora e a estagiária, pois estas duas
queriam que a pochete ficasse como Léo.
Um dia, numa discussão mais acirrada entre a AVE e a estagiária,
a pochete ficou junto dele, mas no fim da tarde, quando fui buscá-lo, ninguém
sabia onde estava. Essa foi minha primeira aparição na Assembleia de pais na
qual fui relatar o ocorrido, e pedir para divulgar na escola alguma campanha
que explicasse aos alunos que a PECS é um meio de comunicação, que se as
crianças a encontrassem a devolvessem na secretaria. Como ele frequentemente saía da classe e ficava
andando sozinho pela escola, esse era um risco real.
Na entrada da escola, a senhora que fazia o transporte do
meu filho, depois de algum tempo, veio me relatar que muitas vezes não havia
ninguém no portão para recebê-lo, e que sua ajudante tinha que ficar com o Léo
dentro da escola, pois ninguém o recebia. Como essa senhora também tem um neto
autista, ela ficava muito indignada e acabava esperando alguém aparecer,
atrasando as crianças que levava para casa que estavam com ela no transporte
vindo de outras escolas.
Um dia essa senhora ficou tão aborrecida com o descaso que
entrou na escola e se dirigiu até a sala dos professores e falou do absurdo que
era não ter ninguém para receber o Léo na entrada e que o acompanhasse para
sala, uma criança autista de seis anos de idade. Depois disso ela resolveu me
contar que isso acontecia com frequência.
Fui até a coordenação falar sobre isso, e também sobre a PECS
que havia sumido, e sobre o que poderíamos fazer para sanar esses problemas.
Sobre não ter ninguém pra receber o Léo a coordenadora disse que não estava
sabendo, pois disse que havia uma AVE designada e iria ver o que estava
acontecendo. Já sobre a PECS ela disse que o Léo não queria usar na escola, que
eles arrumariam um jeito de se comunicar com ele. Achei essa fala muito
questionável. Como assim arrumar um jeito de se comunicar com ele, se ele já
tem uma comunicação alternativa, e isso é um direito dele, inclusive respaldado
na Lei Brasileira de Inclusão?
Neste meio tempo percebemos que o Léo passou a gritar para tudo
que queria. E é claro que ele não ia usar a PECS se com um grito ele conseguia
o que queria, pois sempre havia alguém para ceder aos gritos dele quando queria
sair da sala de aula, ou não queria voltar para sala de aula, ou gritava porque
tirava o tênis e não queria colocar. Ele gritava e pronto. Enfim, meu filho que
já tinha conquistado uma maneira mais adequada para se comunicar, mesmo que
frágil, retrocedeu completamente, pois a escola decidiu passar por cima deste
aprendizado anterior.
Era comum nestas reuniões para acertar as arestas sobre os
problemas com da inclusão do Léo a direção me dizer: “Calma mãe. Essa escola é
um processo, seu filho vai se adaptar”.
A situação da entrada na escola não melhorou. E eu sei, pois
nos dias que ia para o projeto da horta eu levava meu filho e nunca havia
alguém para recebê-lo. Muitas vezes eu o levava até a sala de aula, outras ele
ficava comigo na horta, pois ele queria ficar escorregando numa pista de skate
que tinha na escola e dificilmente sozinha eu o convencia a ir para sala. Uma
das pessoas que me ajudava era a estagiária, pois meu filho havia criado um
vinculo com ela. Quando ela chegava e estendia a mão, ele ia com ela.
Mas nem sempre era possível que ela ficar com ele
integralmente, e quando ela não estava era comum que eu chegasse à escola para buscá-lo
e o encontrasse descalço. Uma vez roubaram suas chuteiras, depois os tênis azuis
que a prefeitura dá de uniforme. Encontraram as chuteiras na bolsa de um aluno
algum tempo depois. Já o tênis azul eu não sei, pois ele pode ter tirado em
algum lugar da escola. Ficava sempre descalço. A coordenação dizia: “Você já
procurou no achado e perdidos?”, pois na escola tem um grupo de alunos que
fazem uma varredura na escola e organizaram um “achados e perdidos”. Não foi por
falta de procurar, mas nunca achei nada do Léo lá.
Um dia eu estava no átrio da escola, esperando pela
Assistente de Direção que me daria a chave do armário de ferramentas da horta.
Encontrei-a pedindo para um funcionário arrastar uma mesa grande e coloca-la em
outro lugar. De repente a Assistente de Direção abaixa atrás da mesa e pega,
num canteiro do átrio, a pochete do Léo, vazia, sem a PECS. Aquela que há meses
havia sumido.
Durante todo período que o Léo permaneceu nesta escola, por
duas vezes sumiram com sua PECS. Tive que confeccionar dois conjuntos novos e
uma pochete.
Tudo que relato aqui foi motivo de muitas conversas e
reuniões na escola. Alguns professores me acolhiam, mas pouco faziam para
mudar. Acho que as pessoas que mais nos ajudaram de fato, ou pelo menos
tentaram, foram algumas mães de alunos desta escola.
Há nesta escola uma Comissão de Direitos Humanos, formada
por mães, pais e professores, que passei a frequentar. Lá fui ouvida, acolhida
e chegamos a pensar em projetos para ajudar a escola, não só com meu filho, mas
com outras crianças de inclusão da escola.
Essa participação me dava esperança de poder fazer a
diferença num espaço escolar com uma gestão democrática. Mas numa primeira tentativa
de expor uma ideia numa reunião desta Comissão, a Diretora da escola se exaltou
comigo, disse que eu nem havia chegado direito e já estava criticando o Projeto, que a escola era “um
processo”, e fez algumas insinuações de que já tinha ouvido falar de mim, mas não
falou o que ouviu. Usou um tom de voz bastante agressivo, nocivo, que causou um
mal-estar na reunião. Minha intenção era de ajudar a escola e fui pega de
surpresa com aquelas acusações de querer tumultuar o “Projeto da escola” e
também porque eu sempre havia admirado o trabalho da Diretora até aquele
momento.
Foi difícil ouvi-la
gritar comigo. Reagi de maneira infantil, pois apenas pedi desculpas e chorei,
dizendo que ela havia me interpretado de maneira equivocada. Mas ela continuou
insistindo que tinha entendido que eu estava fazendo. Mães e pais presentes, assim como alguns
professores, questionaram a atitude autoritária da Diretora. Rolou uma
discussão bem acalorada, se assim posso dizer. Neste momento meu esposo chegou,
pois havíamos combinado dele ir me buscar. Ficou sem entender ao entrar e ver a discussão e minha cara de
quem havia chorado. A reunião terminou assim, sem mais nem menos, pois a minha
fala tinha ficado por último na pauta e o horário havia excedido.
A partir daquele dia, decidi que não me envolveria mais na escola
e que só cuidaria das coisas que me cabiam como mãe do Léo.
As coisas não estavam fáceis. Mas tivemos uma reunião com a
Coordenação e desta vez recorri ao CEFAI para nos ajudar, pois já estávamos
gastando os recursos de diálogos com a escola, sem um resultado. Entre as
coisas decididas foram a: designação de uma AVE fixa para pegar o Léo na
entrada, o apoio mais integral da estagiária junto dele, uma vez que eles
tinham criado um bom vínculo, e um uso mais efetivo da PECS na escola.
Quando o recesso chegou
e pude ficar mais tempo com o Léo em casa, vi o quanto ele estava diferente. Chorava
por qualquer coisa, passava o dia gritando e aos poucos fui usando meus
treinamentos e cursos em ABA (Analise do Comportamento Aplicada) para fazer
algumas intervenções em seu comportamento. Passei a usar a PECS com ele para
tudo, mesmo que ele se recusasse. Treinos de ecoicos, tatos e mando faziam
parte do dia a dia.
O recesso da escola dele foi pequeno, pois houve reposição
de alguns dias da greve do inicio de 2018. Preferi não mandá-lo para escola na
reposição, uma vez que eu estava em recesso na escola que leciono. Assim pude
modificar um pouco os comportamentos difíceis que estava apresentando.
Na primeira semana de agosto estava levando meu filho para
escola. Havia chovido na parte da manhã e o chão da escola de cimento ainda
estava bem molhado. Logo que chegamos ao portão de entrada não havia nenhuma
AVE para recebê-lo e, para minha surpresa, o Léo não quis entrar. Fui tentando
leva-lo para dentro, mas ele já fez aquela famosa manobra que os autistas fazem
de amolecer o corpo para se jogar no chão. Segurei-o, pois ele iria ficar todo
molhado, e fui tentando levá-lo para dentro da escola.
Quem tem filho autista consegue imaginar melhor essa cena.
Eu, preocupada que ele não se molhasse no chão, ele se debatendo, e eu com
receio de machuca-lo.
Quando finalmente
cheguei à porta do átrio, uma coordenadora passou por nós dois e simplesmente
pulou o corpinho do Léo, ignorando a situação de uma aluno público-alvo da
educação inclusiva se recusando a entrar na escola e chorando.
Ao vê-la passar por nós, alheia, sem nos oferecer ajuda ou
sequer nos cumprimentar, a chamei pelo nome e disse “Fulana, oi né?”. Ela
virou, respondeu um “oi” displicente e continuou andando. Veio uma mãe que
estava na escola para me ajudar. Pegou a mochila do Léo que havia caído. Assim
que entramos no átrio o Léo levantou e correu para a pista de skate.
Neste dia não teria atividade de horta e eu tinha um
compromisso, então não poderia ficar com o Léo nos fundos da escola à espera da
estagiária. Fui até a secretaria, falei que estaria com o Léo lá na pista de
skate, mas que chamassem a AVE para me ajudar a levar o Léo para sala.
Esperei bastante e ninguém veio. Eu já estava chorando de
raiva com descaso quando resolvi ir novamente à secretaria, quando cruzei com o
Professor da Sala de Recursos que estava chegando do almoço. Perguntou o que
estava acontecendo e expliquei a situação. Ele gentilmente foi buscar o Léo e,
com muito profissionalismo, conseguiu sua atenção e o conduziu para a sala.
Fui embora arrasada. Escrevi uma solicitação das imagens de
uma câmera de segurança que fica na entrada da escola para mostrar a atitude da
coordenadora diante de nós. Mas se eu realmente fizesse isso quebraria o que
restava de confiança na escola. Nunca enviei o pedido.
Neste mesmo dia encontrei a estagiária, que me disse que
haviam rescindido o contrato dela, alegando que ela tinha uma filha na escola.
Até hoje não entendemos esse papo furado, pois a escola está cheia de pais
trabalhando lá dentro como voluntários.
Ainda no inicio de agosto, também num dia frio e chuvoso, eu
estava dando aula e meu celular tocou, pedi licença para meus alunos, avisei
que precisava atender, pois era da escola do meu filho. Era por volta das 14:10hs.
A secretária ligou dizendo que o Léo havia tomado chuva, e se eu poderia ir
busca-lo. Tinham trocado a roupa dele, pois na mochila estava o uniforme da
clinica onde ele fazia terapia na parte da manhã, mas não havia meia e tênis
para colocar, e devido ao frio que estava, era melhor eu busca-lo ou levar uma
meia e um tênis. Trabalho no município de Barueri. Pelo frio e chuva que
estava, decidi buscar meu filho e leva-lo para casa.
Quando cheguei na escola não havia nenhuma criança no átrio,
ou do lado de fora do prédio. Fui até a secretaria para pedir para avisar que
vim buscar o Léo. Enquanto aguardava alguém para me atender, olhei na direção da
biblioteca e vi que havia uma roda de conversa, e quem estava na roda? Minha
querida deputada Luiza Erundina (PSOL).
Fui autorizada a ir pegar o Léo, pois não havia funcionários
disponíveis para ir até a sala de aula. Chegando lá o Léo estava sentado na
cadeira fazendo uma estereotipia com pecinhas de quebra cabeça, o cabelo bem
molhado, uniforme da clinica Lumi, descalço. A nova estagiária trouxe-o até
mim. Disse que quando chegou ele já havia tomado a chuva. A professora era nova
também e não soube dizer o que acontecera, que já o trouxeram para sala
molhado. Eu estava tão nervosa que não queria nem ouvir, só queria sair daquela
escola, o que foi difícil porque os alunos queriam ir para o átrio, mas um
funcionário não os deixava passar, para não ter barulho e atrapalhar a reunião
que acontecia na biblioteca. E tive que passar pelo meio de adolescentes
eufóricos desafiando o funcionário a abrir a porta.
Enfim, conversei com os adolescentes e eles concordaram em
me deixar passar. Ao chegar em casa, abri uma sacola onde haviam colocado o
uniforme molhado do Léo. Havia no fundo uma quantidade de água suja que
decantou da roupa molhada.
Leonardo na sua inocência não deve ter percebido o abandono
e a sua exclusão do ambiente escolar, deve ter se acabado de pular nas poças de
água se sentindo a própria Peppa Pig. Pelo menos assim espero.
Até hoje não sei se
alguém o viu e foi busca-lo, se alguém sentiu sua falta na turma do 1º Ano e
foram procura-lo, ou se ele simplesmente saiu da chuva por conta própria e foi
para dentro da escola todo molhado.
Deste dia em diante não mandei o Léo mais para escola. Ele
passou a frequentar um espaço de brincar no período da tarde, para que eu
pudesse ir dar minhas aulas. Nos dias em que não dava aula à tarde ele ficava
comigo em casa. Liguei na escola para pedir uma reunião de esclarecimento, ao
que a assistente de direção pediu para eu fazer uma solicitação da reunião por
e-mail. Mandei o e-mail no dia 6 de agosto, me responderam no dia 14, agendando
a reunião para dia 17.
Nesta reunião novamente tentaram acertar as arestas. A
coordenadora chegou a pedir desculpas por ter passado por cima do Léo naquele
retorno as aulas, disse que devia estar preocupada com algo e não percebeu a
situação. Mas no dia 17 não havia mais o que falar, fomos para ouvir o que
tinham para nos explicar e para dizer que precisávamos do termo de
transferência. Neste meio tempo, recorri ao CEFAI e pedi para que me ajudassem,
pois estávamos quase desistindo da educação inclusiva.
Foram muitas conversas com o CEFAI, profissionais que nos
guiaram neste momento doloroso.
Doloroso porque não era uma escola qualquer. Dentre as
escolas municipais da capital ela se construiu num modelo muito rico do ponto
de vista pedagógico, e acabara de ganhar um prêmio internacional de educação
inovadora. Mas o que vivemos e o que vi ali, também em relação a outras
crianças, público-alvo da educação inclusiva ou não, não tem nada de inovador.
Uma escola gerida por um grupo de pais captadores de recursos para a escola,
mas sem nenhum entendimento sobre as peculiaridades da infância e do autismo.
Era sempre uma espécie de “se virá aí!”.
E uma criança autista
de grau moderado, sem conseguir se comunicar através da fala, e com pouco
comportamento de ouvinte não “se vira aí!”. Nós, pais do Leonardo, havíamos
lido sobre o PPP da escola, participamos de eventos e até de uma tentativa de
uma comissão de Inclusão eu cheguei a participar, quando ainda era
psicopedagoga de uma criança estudante desta escola. Tudo isso ainda quando meu
filho estava na educação infantil. Nós desejávamos fazer parte daquela
comunidade escolar, queríamos que nosso filho estudasse lá. Mas nossa história
foi de abandono e exclusão.
Desta escola guardo ainda uma tristeza, um sentimento ruim,
pois ela tem tudo para voltar a dar certo, mas ali se estabeleceu um jogo de
pequenos poderes entre pais de alunos captadores de recursos dos projetos da
escola, uma direção que se perdeu no ego de sua própria história, do “seu
projeto”.
Também guardo boas amizades com algumas mães e pais que
conhecemos nesta escola, pessoas incríveis que lamentaram nossa saída, que
antes tentaram nos ajudar, mas que diante da chuva que o Léo tomou do lado de
fora da escola sozinho, não havia como nos convencer a ficar lá.
Espero que um dia alguém consiga colocar as coisas num rumo
de harmonia nesta escola, pois eu nunca pedi nada demais, fui até lá atrás de
uma proposta interessante, mas que só vi no papel.
Hoje meu filho está
em outra escola pública municipal. Lá ele é respeitado, vai e volta
uniformizado, teve direito ao Transporte Educacional Gratuito, usa a PECS com a
pochete na escola, fica em sala de aula com a turma, a professora fez um
trabalho lindo com as crianças, que por conta disso sabem brincar e se
comunicar com o Léo, e ajudam muito ele. A escola recebe muito bem as
instruções da fonoaudióloga que trabalha com meu filho, e mantêm contato
frequente com a analista do comportamento que acompanha o desenvolvimento das
terapias, para que escola, família e terapia andem juntas em prol do
desenvolvimento do Leonardo.
Essa é a grande questão. A escola anterior coloca seu
“PROJETO” em primeiro lugar. Tudo é em nome de um projeto que se esconde num
processo, e por último olham para as crianças que estudam ali e que não são
filhos de pais que tem influência dentro do tal projeto.
Esta foi nossa
história nesta escola.
Já trabalhei em escolas com projetos maravilhosos que impressionavam os pais nas reuniões mas que ficavam só no papel. Assim como já ouvi professores comentando eles querem que se faça de um modo mas depois que você fecha a porta da sala você faz do seu jeito.
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