terça-feira, 7 de julho de 2015

Elevador

Está história está fora da linha cronológica do Blog. Tinha postado este acontecimento no meu perfil do face. Mas, alguns amigos me disseram que era para postar aqui. Ouvindo os amigos, aqui está.




Elevador é um lugar estranho.

Passamos por um constrangimento por segundos ao ter que encarar um estranho.

Você e o estranho se compartimentam e fica aquele silêncio, até que alguém se vá.

De repente o estranho, não é mais estranho, passa a ser seu companheiro de elevador. Se topam toda hora.

Tem vezes que nem é constrangedor, pois o estranho é um simpático que fala uma conversa de segundos. Acontece. Mas isso também é estranho.

O que é comum no elevador são as pessoas brincarem ou falarem com crianças. Como se isso não fosse constrangedor para elas.

Pois então, não seria diferente com o Léo. Se não bastasse ele não falar, outra característica do autismo é que eles não sabem cumprimentar, não se importam com isso. Não ligam para aqueles que dizem "Oi mocinho!", "Que menino bonito! Vai passear?" O Léo ignora completamente cumprimentos, principalmente no elevador.

As pessoas ficam constrangidas com a falta de resposta dele. Geralmente eu respondo por ele tentando ser simpática. Não dá para explicar em segundos que ele é autista. E nem sempre acho que as pessoas merecem essa informação no elevador.

Mas agora que ele está grandinho, é comum as pessoas perguntarem o nome dele. "Oi, como você chama?" E, ele nem aí, geralmente olhando para os números do painel que indica os andares. Ao ignorar a pessoa, eu respondo por ele. A porta abre, desembarcamos e tudo resolvido.

No entanto tem gente que força um pouco mais a resposta dele. Mexem, brincam com ele, e olham para mim inventado alguma desculpa por terem sidos ignorados. "Ele está concentrado no painel", "Ele está cansado?"

Mas tem gente mais insistente ainda "o gato comeu sua língua". Aí minha língua não aguenta e diz "Ele não fala". Alguns não se constrangem e continuam, "mas quantos anos ele tem???".

"3 anos e não fala”. Se tudo der certo a porta abre antes do fim da conversa. Mas sempre há tempo de alguém falar de um parente que demorou para falar...

Outro dia estava no hall esperando o elevador. Chegaram duas senhoras. O Elevador chegou. Entrei com o Léo e segurei a porta para elas entrarem. Disseram que iriam esperar alguém e deram tchau para o Léo. O fofo do Léo retribui mandando beijo. Neste momento a terceira senhora chegou a tempo de entrarem no elevador, encantadas pelo beijo do Léo, começaram a falar com ele.

"Ah, eu sei o nome dele. É Joãozinho". A outra "Acho que não. É Pedrinho".

Para meu constrangimento o elevador que deveria subir, desceu.

Enquanto elas falavam o Léo vidrado no painel, pois agora está vocalizando alguns números do painel (1,8,9, 10, 11 e comemora o 16 nosso andar).

Quando a terceira senhora ia inventar outro nome e perguntar ou perguntar o nome dele...

Eu disse na maior naturalidade "O nome dele é Leonardo, ele AINDA não fala. É autista. E está tentando contar os números do painel. Nós estamos voltando da fono.

"OoHHH!! Que lindo!"

Ficaram ouvindo ele fazer sonzinhos para os números, perderam ele falar o Hum, e desceram antes do OITO.

Nos deram parabéns. Não sei bem o porquê.


O bom de ser autista é que isso não vai ser motivo de constrangimento. Nem no elevador.








2 comentários:

  1. O Léo fala com os olhos, o que é muito mais difícil !

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  2. entendo perfeitamente Amanda... tbm já passei por isso!!! Adoro seus textos!!! Sempre nos surpreendendo!!! bjs

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